Quando pensamos no período medieval, provavelmente o que vem a mente de muitas pessoas são as imagens clássicas dos castelos, reis e rainhas, cavaleiros, camponeses famintos e a praga. Majoritariamente, estas referências imortalizadas pelos cinemas e livros nos mostram uma visão focada na França medieval, local onde nasceu o sistema político e econômico conhecido por feudalismo. Geralmente este tema é abordado pelos professores de história nas escolas como a principal característica definidora do período que vai do século V ao XV d.C (476/1453). No entanto, durante a idade média podemos observar diversos costumes e particularidades para além da França e Inglaterra, a península Ibérica (atual Portugal e Espanha) nos forneceu uma história muito rica e diversificada culturalmente, porém pouco abordada nas escolas.
(Alambra, fortaleza localizada na cidade de Granada, Espanha)
Uma breve contextualização do povoamento da península ibérica
Após a queda do império romano do ocidente (476 d.C), a província hispânica até então governada por administradores romanos passou por transformações quando os movimentos migratórios e invasões dos povos "bárbaros" germânicos, como os visigodos, suevos e alamanos chegaram na península pelo norte, pilhando e causando o terror na região até se estabelecerem aos poucos nas terras ibéricas, passaram a fundir sua cultura "bárbara" junto das tradições romanas que nunca foram completamente extintas. Nos fins do século VI estabeleceu-se o reino visigótico que deu sua contribuição com a língua gótica e a prática religiosa do arianismo, vertente do cristianismo. A passagem de outros povos e suas culturas estava apenas no começo e no século VIII inicia-se um novo choque cultural, dando a "cereja do bolo" no processo de construção da península. Desta vez a nova onda migratória traz consigo a doutrina do profeta Maomé, a religião islâmica chegou através dos árabes berberes que atravessaram o norte na África pelo estreito de Gibraltar no ano de 711, iniciando a "era de ouro do islã" segundo alguns historiadores.
Al-Andaluz e a construção do legado cultural árabe: Aproveitando-se da descentralização e desentendimentos entre os diversos reinos cristãos , os Árabes da dinastia dos Omíadas, em pleno processo de expansão invadem a península, estabelecendo seus domínios ao sul depois de dar fim ao reino visigótico na batalha de Guadalete. Nos anos seguintes avançaram península adentro conquistando ao longo dos anos toda a região com exceção do norte da península, onde se refugiaram muitos cristãos que fugiam das incursões inimigas (a essa altura a maioria dos visigodos haviam se convertido ao cristianismo católico). Os árabes iniciaram um governo que permaneceu na península até meados de 1492, ainda que, com várias transformações geopolíticas, foram quase 800 anos de influência da cultura árabe/islâmica na região.
Sob o governo do emirado de Córdova, provavelmente, se deu o auge dos árabes na península Ibérica. Neste período (929 d.C) houveram grandes incentivos no desenvolvimento do comércio e cultura. Intelectuais de todas as religiões (islâmicos, cristãos e judeus) foram convocados para servir no palácio do califa (líder político e religioso), conviviam em relativa paz e promoveu-se avanços em diversas áreas do conhecimento cientifico: Na medicina, filosofia, matemática, farmacologia, música e astronomia. Importaram hábitos alimentares do oriente médio, como o cultivo de tâmaras, ameixas e outros gêneros alimentícios oriundos de sua terra natal. Foram construídas universidades e desenvolveram-se novas técnicas de arquitetura, evoluindo muito a partir das observações sobre as várias culturas que ali habitavam, misturaram a arte romana, visigótica, bizantina e árabe em construções magníficas:
O comércio floresceu novamente, transações comerciais entre toda e Europa, África e Oriente voltavam com força, demonstrando ao mundo um novo centro comercial e cultural, equiparando-se até mesmo a Roma, Constantinopla e Paris.
A península ibérica foi a morada de diversos povos ao longo dos anos, favorecendo para que acontecesse um intercâmbio cultural até então nunca antes vistos, proporcionando um período rico da história onde a diversidade moldou a história da Espanha e Portugal que conhecemos hoje .
Texto escrito por Fernando Queiroz
Referência bibliográfica: História medieval da Península Ibérica, Rucquoi, Adeline (Editorial Estampa)
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